sexta-feira, 3 de abril de 2009

OS AFRO SAMBAS DE BADEN-VINICIUS (1966)

Sempre bom saber um pouco mais sobre música.

No início dos anos sessenta Vinicius de Moraes foi presenteado pelo baiano Carlos Coqueijo Costa com um exemplar do LP Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, disco esse que impressionou profundamente o poeta descortinando para ele uma vertente da música popular que ele ainda não havia descoberto.

Vinicius então mostra o disco a Baden Powell seu parceiro mais constante na ocasião e este também se encanta. Em 1962 Baden visita a Bahia para apresentar um show com Silvia Teles no Country Club, familiariza-se com artistas e intelectuais baianos, demonstra seu interesse pelas tradições afro baianas e acaba sendo apresentado ao capoeirista Canjiquinha que o leva a terreiros, rodas de capoeira e o mais importante interpreta para ele os cânticos e sons do candomblé.

Baden fica fascinado, não propriamente pelo sentido místico do que vira, mas sim pela beleza das harmonias do que ouvira. Ao se reencontrar com Vinicius compõe o samba Berimbau e resolvem iniciar uma série de canções sobre a cultura afro brasileira.

Nessa época Baden Powell estava estudando canto gregoriano com o maestro Moacyr Santos e percebeu que eles tinham semelhança com os cânticos afros que havia ouvido na Bahia e inspirando-se nessas duas influencias resolve então compor uma série de temas mesclando-os com a batida do samba, o resultado é esplendido e de grande beleza melódica, surgindo assim uma nova modalidade musical, os afro sambas no dizer de Vinicius de Moraes e que seria uma característica inconfundível na obra musical de Baden.

Passados os momentos de estudo e assimilação da temática os dois parceiros estavam prontos para iniciar a realização das canções e assim surge “Canto de Ossanha”, “Canto de Xangô”, “Bocoché”, “Canto de Iemanjá”, “Tempo de amor”, “Canto do caboclo Pedra Preta”, “Tristeza e solidão” e “Lamento de Exu”.

Findo o trabalho partiram então para a gravação das músicas num LP intitulado de Os Afros Sambas, produzido por Roberto Quartin dono da etiqueta Forma e com arranjos de Guerra Peixe. Disco antológico ele passa a história da música brasileira como sendo o primeiro trabalho em que se misturam instrumentos típicos do candomblé, atabaques, bongô, agogô e afoxé com outros da música tradicional como flauta, violão, sax, bateria e contrabaixo.

Gravado nos dias 3, 4, 5 e 6 de janeiro de 1966, o disco conta com a participação do Quarteto em Cy e com um coro misto formado por amadores ligados por amizade aos autores, aliás como bem definiu Vinicius, um “coro da amizade” pois a intenção apesar dos arranjos elaborados, era dar um tratamento simples, despojado e espontâneo a gravação.

Nesse coro estão presentes Eliana Sabino, filha do escritor Fernando Sabino, Bety Faria, iniciando sua carreira artística no teatro e na dança, Tereza Drumond, namorada de Baden, Nelita, então esposa de Vinicius, Dr. César Augusto Parga Proença, psiquiatra e o medico Otto Gonçalves Filho.



Apesar de já estar definitivamente inserido como um dos mais importantes discos da música popular brasileira, o comentário de Vinicius de Moraes na contra capa do LP é mais elucidativo do que qualquer outra observação que se queira dar ao trabalho: “Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo: carioquizar dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro brasileiro dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal (...) nunca os temas negros de candomblé tinham sido tratados com tanta beleza, profundidade e riqueza rítmica (...) é esta sem dúvida a nova música brasileira e a última resposta que da o Brasil, esmagadora à mediocridade musical em que se atola o mundo. E não digo na vaidade de ser letrista dos mesmos; digo-o em consideração a sua extraordinária qualidade artística, à misteriosa trama que os envolve: um tal encantamento em alguns que não há como sucumbir à sua sedução, partir em direção ao seu patético apelo”.


Texto retirado do blog som do roque

Um comentário:

Tiago Jucá disse...

meu véi, esse disco é uma cousa...mt boa!